As tangerinas foram distribuídas
pelos comensais que ocupavam todos os lugares da mesa, a mesa mais concorrida
da cantina. O saco passou de mão em mão e cada um tirou a quantidade de
tangerinas que desejava para finalizar o almoço. Porém, após a distribuição das
tangerinas, surgiu em cima da mesa um saco cheio de laranjas. Também as
laranjas foram distribuídas de acordo com o desejo de cada um. As que sobraram
ficariam para os que viriam a seguir, ou para o dia seguinte. À medida que
foram terminando a refeição e as tangerinas e laranjas começaram a ser
descascadas o cheiro caraterístico e intenso da acidez da casca e do doce da
fruta sobrepôs-se aos cheiros que enchiam o espaço. Os cheiros do prato do dia,
dos fritos, dos grelhados e dos mais variados alimentos trazidos por alguns
funcionários e aquecidos no micro-ondas, foram suplantados pelo doce e acre
aroma das tangerinas e laranjas descascadas.
Apesar desta cena se passar numa
cidade, muitas das pessoas que aí trabalham moram fora da cidade, em pequenos
lugares, vilas ou aldeias. Pessoas que têm os seus terrenos, os seus quintais,
as suas hortas, árvores de fruto e toda uma variedade de produtos que a terra
oferece a quem lhe dedique algum tempo e trabalho. É comum ver nos corredores
do meu serviço alguém com um saco cheio de produtos do seu quintal para
distribuir pelos colegas. No inverno, para que não se desperdice a excelente
produção de laranjas e tangerinas das árvores dos seus quintais, são levadas
para a cantina e partilhadas com os colegas que lá almoçam. Os que moram em
apartamentos agradecem a dose extra de deliciosa e suculenta vitamina C.
Esta partilha, este oferecer o
produto da terra, faz parte do quotidiano de quem vive longe dos grandes
centros urbanos. Nesta cidade de província tenho sido contemplada com generosas
oferendas, para além das nutritivas tangerinas e laranjas que complementam o
meu almoço, também já recebi limões, tomates cherry, folhas de lúcia-lima que
fizeram muitos e deliciosos chás, e até cebolas, entre outros produtos.
Quando morei na aldeia, as
ofertas eram ainda muito mais comuns e variadas. A partilha dos bens fazia
parte da vida das pessoas, do seu dia-a-dia. Desde os produtos da horta, a
queijos, ovos, carne e enchidos na época da matança do porco. Na falta de
produtos para partilhar eu oferecia o meu sorriso, alguma conversa numa terra
na altura tão desertificada e um muito sincero agradecimento.
Mas mesmo quando vivia em Lisboa,
tinha por vezes o privilégio de receber em casa alguns produtos da terra. Tinha
vizinhos que quando iam passar o fim de semana à terra, à aldeia, voltavam
carregados de produtos que gentilmente partilhavam connosco.
Também agora quando volto à
terra, à minha terra – Lisboa, regresso sempre muito mais carregada do que fui.
São livros, bolachas, chocolates, mas os melhores produtos da terra, da minha
terra, continuam a ser o coração cheio de amor, os bolinhos de coco da minha
mãe e o doce de abóbora do meu pai!
Adorei.... Quase apostava que a autora é a "minha homónima".... Abraços carinhosos para todos os meua Amigos Leais.
ResponderEliminarSim ;) obrigada! Beijinhos e abraços nossos.
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