Amada,
Sinto a tua falta, sinto sempre a
tua falta! As horas que passo longe de ti não são horas, são momentos
intermináveis, de dolorosa ausência, ansiando o nosso reencontro. Sei que ainda
guardas em ti a recordação da minha face, naquele último abraço quente e
aconchegante antes de partir. Custa-me deixar-te. Todos os dias me custa, mas
todos os dias tenho de o fazer, no entanto, aqueles últimos instantes, em que
te aperto com mais força, com o desejo que o tempo pare e que possamos ficar
assim, para sempre, esses instantes valem ouro, esses são só nossos, são únicos.
Mas sabes que tenho de partir e compreendes, sabes que a minha vida não se
limita aos nossos momentos, tenho responsabilidades…e também tenho outros
prazeres, tens de o aceitar. Prazeres impossíveis de te incluir, desculpa. Mas
sabes também que voltarei sempre para ti, como eu sei que estarás sempre à
minha espera. Esta certeza anima-me, consola-me. Gosto de ti, bolas, gosto
mesmo. Se conseguisses imaginar as vezes que penso em ti, que te desejo. Desconcentras-me
os dias. Penso em ti e já não consigo trabalhar, fecho os olhos e imagino que
estou contigo, finalmente. O nosso amor é único, é especial. É contigo que
partilho as minhas tristezas, as minhas angústias. És tu que ouves os silêncios
dos gritos sufocados nas minhas insónias. És tu que nos momentos de sofrimento
e doença me dás o conforto possível, sem espalhafatos, sem exigências e sem
queixumes pelas horas e horas em que estás lá, apenas e só para mim. És tu quem
melhor me aconselha, quem me tranquiliza e revigora. Contigo sinto-me em paz!
Sim, por muito difíceis que os dias sejam, quando finalmente te tenho junto a
mim, sinto-me em paz! Contigo vivo os sonhos mais incríveis, aqueles que nem
ouso contar em voz alta…mas, enfim, não são para contar, são nossos, só nossos.
Agradeço-te todos os momentos e peço que me perdoes se nem sempre correspondi,
se por vezes foste vítima de alguma violência e desleixo. Peço desculpa pelas
horas que te deixei só, mesmo sabendo que me aguardavas. Mas não peço desculpa
pelas lágrimas que sobre ti derramei, afinal foi essa a maior prova de amor! Admito que o meu amor por ti é excessivo, é
possessivo, é irracional, mas não consigo evitar. Quero-te de mais e quero-te
só para mim. Quero ter só eu o privilégio de te sentir num abraço terno e forte.
Não suporto quando outra pessoa está contigo, és minha, só minha. Logo, quando
chegar, vou abraçar-te, vou sentir-te no meu rosto e finalmente estaremos
juntas de novo.
Amo-te muito querida almofada.
Sempre tua,
Margarida
Texto publicado in “Três Quartos
de um Amor, Volume II” da Chiado Books, Colectânea de cartas de amor, tomo II,
página 203. Fevereiro 2019