Há tempos perguntei à minha filha
se se lembrava dos seus sonhos. Eu não sonho, respondeu, apenas me lembro dos
pesadelos! Estranho, pensei, tanto a minha mãe como eu sempre fomos muito
férteis no que diz respeito a sonhos. Alguns sonhos da minha mãe adquirem mesmo
contornos premonitórios. Eu não chego a tanto, não tenho essa capacidade
extrassensorial de transportar para os sonhos acontecimentos futuros ou
presentes, mas considero que tenho um subconsciente riquíssimo, como suponho
todos devemos ter, e uma imaginação que me permitem colocar em sonhos, dos
quais me lembro depois de acordar, acontecimentos e imagens perfeitamente
espetaculares.
Em jeito de brincadeira costumo
catalogar os meus sonhos por categorias: os sonhos recorrentes, os normais de
todos os dias e os extraordinários.
Os sonhos recorrentes são aqueles
cujo tema surge com frequência nos meus sonhos. Nunca são iguais, mas o guião
anda sempre à volta do mesmo assunto, mudando por vezes os cenários. Claro que
a personagem principal sou sempre eu. Exemplo destes sonhos recorrentes são
aqueles em que como bolos e chocolates sem parar, em que encontro dinheiro, em
que preciso urgentemente de ir à casa de banho, mas onde as casas de banho
nunca têm portas, sonhos em que voo ou corro sem sair do lugar e sonhos onde
conduzo um carro sem travões e cujo volante não responde aos movimentos
desesperados dos braços. Durante um determinado período, em que alguns colegas
de trabalho andavam a tirar o curso de arquitetura, sonhei com alguma
frequência que ainda estava a estudar e que nunca tinha os trabalhos de desenho
e de projeto prontos a apresentar, enquanto dormia angustiava ao sentir que
tinha os trabalhos por fazer e que seria impossível concluir as cadeiras com
sucesso. Deixei de ter estes sonhos quando os meus colegas terminaram o curso.
Quando estou doente ou muito preocupada sonho em círculos… os sonhos terminam e
voltam ao início, sonhado repetidamente a mesma coisa a noite toda.
Os sonhos a que chamo normais, de
todos os dias, adquirem os mais variados temas, cenários e personagens. Sonho
com paisagens deslumbrantes, praias lindíssimas de mar azul cristalino,
montanhas fabulosas e também com espaços arquitetónicos e cidades
extraordinárias que gostava de projetar. Por vezes quando acordo destes sonhos
fico a pensar na arquitetura que projeto no subconsciente e que consigo
materializar em imagens sonhadas, mas que se tornam impossíveis de reproduzir
na realidade. Se um dia conseguisse projetar e construir uma dessas obras
sonhadas, ganharia certamente o prémio Pritzker! São sonhos onde surgem pessoas
que conheço e pessoas que nunca conheci e que possivelmente nem existem,
interagindo algumas vezes numa confusão e mistura de situações irreais com
situações possíveis. Por vezes sonho com familiares que já faleceram e é de
algum modo reconfortante sentir a sua presença. Alguns sonhos são muito
coerentes e contam histórias engraçadas ou dramáticas, outros são completamente
estapafúrdios sem sentido, desconexos. Uns transmitem desejo, alguns prazer,
outros medo ou inquietação. São histórias soltas que por vezes se cruzam. São
simples ou rebuscados sonhos, daqueles, de todos os dias.
De vez em quando sou brindada
durante o sono com sonhos perfeitamente extraordinários. Alguns pelas mensagens
que transmitem nas vivências sonhadas em imagens que recordarei sempre.
Mensagens fortes, dramáticas, mas que recordo em alturas difíceis e me ajudam a
ultrapassar o momento. Alguns dos sonhos extraordinários já não consigo
reproduzir, mas após acordar tive a plena perceção que foram especiais. Um deles
foi um autêntico filme, uma história coerente com princípio meio e fim, o que é
raro num sonho. Lembro-me de outro em que sonhei repetidamente com a música que
canta “você abusou…” e que na altura era a banda sonora de um anúncio
publicitário a um medicamento para ajudar a digestão…quando acordei percebi o
porquê do sonho: estava indisposta, com uma paragem de digestão. Já sonhei a
preto e branco, algo excecional à regra de sonhar a cores. Num dos sonhos as
imagens foram-me apresentadas em forma de película cinematográfica. Por vezes
quando acordo fico espantada comigo própria e desgostosa com o facto de o meu
conhecimento consciente não atingir o elevado nível intelectual do
subconsciente, ao constatar que estive a sonhar em inglês ou em italiano,
falando as línguas com desenvoltura e perfeição. Também já me aconteceu ter um
sonho dentro de outro sonho, o que significa que atingi o topo da categoria dos
sonhos, bem ao nível do filme Inseption
– A origem!
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