A nossa atividade profissional tendencialmente
manifesta-se na forma como apreendemos os espaços, como interagimos e lidamos
com situações e vivências rotineiras e na forma como comunicamos. É tudo uma
questão de perspetiva e do modo como cada um tem a perceção da realidade.
Quem me conhece bem sabe que sou espacialmente
muito desorientada. Quando me encontro num espaço fechado e quero indicar um
determinado local nas redondezas, aponto sempre em direção à porta ou à
janela…mesmo que essa seja a direção oposta à do referido local. Se, não
conhecendo bem um caminho ou não sabendo exatamente uma localização, opto por
virar à direita, então é quase certo que deveria ter virado à esquerda. O meu
marido por vezes ainda arrisca pedir-me opinião sobre qual o caminho a seguir,
mas arrepende-se imediatamente. A verdade é que nem eu confio no meu sentido de
orientação, que é quase nulo. No entanto, se estudar um local ou caminho num
mapa ou vista aérea, oriento-me perfeitamente. Quando tenho necessidade de
conduzir para algum lugar com o qual não esteja familiarizada, basta-me decorar
o local e o caminho estudando uma foto aérea e vou lá ter direitinha. É claro
que se usasse o GPS o efeito poderia ser o mesmo…ou não! A questão é que, se
entender o espaço, a distribuição das ruas e das construções, se perceber, numa
vista abrangente e panorâmica, o percurso, com suas mudanças de direção, então
o cérebro consegue processar de forma eficaz a espacialidade. E qual a melhor
forma de eu entender e o espaço?! Em planta, não fosse eu arquiteta!
Quando vou comprar fiambre ou queijo fatiados
peço sempre um determinado número de fatias. Por norma, e foi assim que a minha
mãe me ensinou, as pessoas pedem uns tantos gramas de fiambre ou queijo. Mas,
sabendo que utilizo uma fatia de queijo em cada pão que preparo, sei que para
preparar os 10 pães semanais preciso de 10 fatias, 15 dando o desconto de quem
lá em casa se lambuza com 2 fatias por pão ou assalta esporadicamente o
frigorífico, então peço sempre 15 ou 20 fatias de queijo da marca x. Eu sei lá
quantos gramas são 20 fatias de queijo! Além disso desisti de pedir os produtos
em gramas, os funcionários nunca entendiam quando pedia duzentOs gramas de
fiambre! Se acontece comprar paté, daqueles que estão em cuvetes e são cortados
mediante o pedido do cliente, peço sempre um pedaço com 1 ou 2 cm de espessura
e nunca a quantidade pretendida em quilos ou gramas. Para quilogramas
bastam-me, e sobram, os da minha balança!
Tendo uma mãe enfermeira estou
razoavelmente apta para interpretar e traduzir o discurso das minhas amigas
enfermeiras. A particularidade destas minhas amigas é que os seus filhos nunca
esfolam os joelhos, fazem escoriações. Se alguma coisa as incomoda ficam com
prurido, enquanto eu ando às aranhas com uma desgraçada comichão. Na altura da adolescência dos filhos, as
nojentas borbulhas de pus transformam-se em elegantes pústulas, que não lhes
darão muitas dores de cabeça…apenas cefaleias. Os enfermeiros partilham com os
instrutores de educação física uma visão muito mais complexa do corpo humano, o
que para o comum mortal são pernas, braços, ombros e rabo, para estes profissionais
são fibulares, glúteos, adutores, bíceps, tríceps, deltóides, braquiais,
dorsais e romboides. A comida, por sua vez, perde toda a sua complexidade e
diversidade para se resumir a calorias, hidratos de carbono, proteínas,
vitaminas e lípidos. Um delicioso jantar de bacalhau com natas, bem regado a
vinho tinto, tendo uma mousse de chocolate de sobremesa, será para os
instrutores, médicos e nutricionistas apenas um jantar com excesso de calorias!
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