Esta noite tive um sonho. Sonhei
com uma torre enorme e monstruosa de 7 andares. Eu sei que a um edifício de 7
andares, por norma, não se chama torre, mas no mundo distorcido onde me
encontrava no sonho tudo era desproporcionado e fora de escala. No sonho, o
edifício de 7 andares, doravante apenas denominado A Torre, subia para além das
nuvens e ninguém conseguia ver o seu topo. Perante o desconhecido e a suposição
que A Torre elevava para uma dimensão alienígena quem quer que a habitasse, os
habitantes da cidade temiam-na e odiavam-na, sentiam-se como Liliputianos
perante Guliver. A Torre até era bonita, elegante e apelativa fazendo com que
alguns corajosos e mais dados a aventuras a desejassem conhecer melhor e até
habitar, mas por vezes transfigurava-se e a sua sombra sobre a cidade
obscurecia o espírito dos Liliputezinhos que, aterrorizados, juravam que a
tinham visto engolir jardins, casas, carros e até pessoas.
Não sei bem por que razão, mas fui
eu a eleita e chamada a tentar resolver o problema da cidade, o problema da
Torre. Com muito boa vontade e cheia de esperança muni-me das armas e
utensílios que achei apropriados a combater o flagelo da Torre. Quando me aproximei a primeira vez da Torre,
achei-a inofensiva, apesar da altura descomunal de 7 pisos – relembro que
naquele mundo tudo era distorcido e desproporcionado. Analisei cuidadosamente
todos os aspetos físicos e psíquicos inerentes à existência da Torre uma vez
que se desconhecia quem e como a teria construído. Sobre este tema também
recaíam muitas polémicas e contradições. Havia quem dissesse que A Torre tinha
sido construída por elementos ocultos da sociedade que, sob a falsa intenção de
criar habitações, pretendiam destruir a cidade remetendo-a à sombra eterna. Havia
quem dissesse que, como ser inteligente e auto mutante, a própria Torre se
tinha construído no intuito de ser o elemento dominante e dominador da até
então pacata cidade. Havia ainda quem ousasse dizer que não via qualquer mal na
sua existência, sentindo-se perfeitamente capaz de coexistir com tão transcendente
elemento arquitetónico.
Após uma primeira análise não encontrei nada
de estranho na Torre, tirando o facto de ter 7 pisos e alcançar o céu e isso
sim, era de facto estranho. A questão não parava de me inquietar o espírito e
entrei num delírio tortuoso em que a imagem da torre disforme e sem fim me
tinha capturado e, como numa espiral, eu percorria-a vezes sem conta, nunca
atingindo o seu final nem conseguindo voltar ao início. Passei dias e dias, no sonho,
neste delírio, presa na Torre, sem conseguir, no entanto, descobrir qual a
razão do seu problema e como o solucionar. Perante a minha ineficácia o povo
voltou-se também contra mim, alegando que era cúmplice da Torre, eventualmente
até a sua criadora e que também eu queria o fim da cidade. Com o início de
alguns tumultos, a cidade aparecia, no sonho, cada vez mais distorcida e
desproporcionada. As plantas eram minúsculas, as pessoas também, os automóveis
transfiguraram-se e apareciam gigantes, obstruindo as estradas, ocupando os
passeios, logradouros, jardins, criando o caos. Perante a confusão que se
gerava na cidade, a Torre ria, pois que nos sonhos tudo é possível, e ria
desalmadamente fazendo tremer a terra que se rasgava abrindo fissuras enormes
das quais nasciam mais Torres. Torres e Torres e Torres enormes, disformes e
desproporcionadas…Ahhhhh!
Acordei, felizmente, mas a
sensação de estar a ser perseguida por uma torre não me abandonou.
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