A uma jornada do fim do
campeonato nacional de futebol – Liga Portuguesa (Liga NOS), já está apurado o
campeão e feita a festa. Mais um ano em que o “meu” clube não ganha, já são
muitos anos, nem sei quantos, apesar dos meus queridos amigos de clubes rivais
me estarem sempre a lembrar desse astronómico e inquantificável número de anos.
Sinceramente isso não me preocupa muito, tenho pena, gostava que o “meu” clube
fosse campeão, mas não é essa a razão que me move, não é essa a razão pela qual
a minha preferência recai sobre esse clube. Nem sequer é pela cor que o
representa, caso contrário este seria um dos últimos clubes que apoiaria.
O meu amor a esta camisola nasceu
cedo, tão cedo como o conhecimento que tenho de mim. É um amor herdado e um
amor que em pequenina alimentei ao vestir essa mesma camisola, mesmo que numa
modalidade diferente. É um amor que ficou do tempo dos berlindes e das corridas
com tampas de caricas, com as caras dos futebolistas, é um amor sereno, agora, sem
paixão e sem loucura, mas um amor leal. Mas como um coração de mãe, com
capacidade para amar mais do que um filho, também agora apoio outro clube, um
clube do coração.
As voltas da vida fizeram-me
deixar a minha cidade, a minha terra, a terra do “meu” clube, acabando por me
instalar, aparentemente, de vez, numa pequena e simpática vila, agora a minha
terra adotiva e para sempre a terra dos meus filhos, com direito a registo de
naturalidade na conservatória. Também esta simpática vila tem um clube, que não
é só de futebol, mas onde o meu filho joga futebol. Quando o meu filho, com
seis anos, vestiu a camisola deste clube pela primeira vez, senti que desde
aquele momento alimentava um amor que ficará para a vida toda, um amor ao clube
da sua terra, um amor ao clube cuja camisola foi a primeira que vestiu. No
entanto ele tem outro amor, tem outro clube do coração, adquirido por herança,
e acredito que também vestirá outras camisolas, de outros clubes, que por eles
dará o seu melhor e que a esses clubes dará o seu amor ou pelo menos a sua leal
dedicação e empenho. Mas o amor ao seu primeiro e atual clube é um amor tão
entranhado que me contagiou. É um amor vivido, suado e sofrido.
Mas este clube é apenas o clube
de uma pequena vila do centro de Portugal e como tal, pensa muita gente, é um
clube menor que não prestigia quem nele joga, nem contribui para a sua
excelente formação desportiva e humana…não podiam estar mais errados! Esse
sentimento é movido pela influência da proximidade geográfica de uma cidade que
tem tudo para ser grande mas que é uma cidade pequenina. A sua pequenez reside
no facto de estar tão cheia de si própria, que não consegue lidar com a evidência
de estar a ser ultrapassada em qualidade e valor por aqueles que considera
inferiores. Como em algumas situações não consegue impor de forma legítima a
superioridade que considera ter, usa toda a sua influência e poder para que a
sua dignidade não seja ferida, ignorando que são exatamente essas atitudes que
ferem de morte a dignidade e o prestígio da instituição. E assim, impondo os
seus clubes e os seus atletas, que são bons atletas, as cidades pequeninas
vivem o sonho e a ilusão que são grandes.
É desta forma sofrida, lutando
com coragem e dignidade, com muito trabalho e determinação, com paixão e união,
que os pequenos clubes de pequenas terras se tornam grandes, porque cada
derrota, cada injustiça, cada infortúnio são encarados de cabeça erguida, com a
dignidade intacta, com a vontade de melhorar ainda mais forte, com a
determinação de provar o valor, a qualidade, a paixão pelo jogo e a união
existente, na equipa e no clube. E é por esta razão que o clube que lhe proporciona
tantas alegrias, tanta aprendizagem e crescimento desportivo e de caráter, mas pelo
qual também sofre algumas injustiças, sem que no entanto o demovam do seu
empenho, será para sempre um clube no coração do meu filho …e no meu!
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