Quando recebemos a bombástica
notícia que vamos ter um filho, naquele misto de felicidade, medo e ansiedade,
o que mais desejamos é que seja “normal”. Depois de a criança nascer só
queremos que ela seja tudo menos normal, aspiramos que seja excecional! Desejamos
que seja um ótimo atleta, com dotes artísticos fenomenais, muito bom aluno e
ainda sossegado, obediente, trabalhador, interessado, educado, silencioso, que
coma bem e durma ainda melhor! Uma criança “normal” é um aborrecimento:
tira-nos horas de sono, enche a casa de sons de brincadeiras e cantorias,
chora, faz birras, desarruma, torce o nariz à refeição saudável, diz que não
gosta disto ou daquilo e, como se não bastasse, está mais interessada em brincar
descontraidamente e em ser feliz do que em ser a melhor. A maior prova de amor
a que a vida nos submeterá é a de amarmos os filhos incondicionalmente, tal
como eles são.
Tenho uma parede do corredor da
minha casa preenchida com fotografias emolduradas, a maior parte delas de quando
os meus filhos eram pequeninos. Frequentemente observando as fotos experimento
um sentimento de nostalgia. Que saudades de quando eram pequenos, de quando
cabiam aninhados no meu colo, de quando pegava nas suas mãozinhas pequenas e as
envolvia com as minhas, de quando o centro do seu mundo éramos nós, os pais,
saudades do tempo em que estavam completamente dependentes dos nossos cuidados,
saudades do tempo em que várias vezes desejei que fossem mais crescidos, mais
velhos e independentes…
Agora são mais velhos, mais
crescidos e independentes e, nós os pais, podemos já não ser o centro dos seus
mundos, e, por muito que nos custe, é bom que assim seja, mas sei que teremos
sempre um lugar especial nas suas vidas e corações, seremos sempre um pilar, um
pilar com fundações bem firmes, pronto a sustentar todas as sobrecargas,
pressões, oscilações e abalos sísmicos que possam surgir nas suas vidas. Sei
isto porque também sou filha, porque também voei, tornei-me independente e
autónoma dos meus pais, mas eles, o pilar da minha vida, permanecem fortes e
sempre presentes, amparando e acarinhando os seus filhos num vínculo de amor
recíproco e imensurável.
A ambivalência de sentimentos e a
proporção física dos abraços molda-se e modifica-se ao longo dos anos mas nunca
deixam de ser momentos de prazer supremo - o aninhar o filho bebé nos braços
num aconchego de segurança, o reconforto do colo que a criança recebe,
envolvida pelo abraço firme, o carinhoso entrelaçar de corpos e o sereno
repousar no ombro amigo do filho adolescente, a paz alcançada num abraço seguro
e maduro de amor sublime entre pais e filhos adultos.
Cada vez me convenço mais que normalidade se trata de um conceito meramente estatistico, que cada um nós mergulha e recria a sua própria loucura para qur possa permanecer saudável, e que muitos são aqueles que são privados de experimentar este tal aconchego que aqui, e tão bem, é retratado neste texto. Excelente. Nuno Vladimir.
ResponderEliminarObrigada Nuno!
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