Entrei na igreja a caminho do
trabalho. Seria só um pequeno desvio, uns cinco minutos, não mais do que isso.
Entrei. Decorria a celebração da primeira missa do dia. Apesar da hora, a
igreja estava composta, surpreendi-me com a quantidade de crentes a assistir a
uma missa semanal, logo pela manhã. Assim que entrei experimentei uma sensação de
paz, tranquilidade, conforto, segurança, uma sensação semelhante à de uma
criança a ser acolhida nos braços de seus pais.
Como não me ia demorar e para não
perturbar a celebração permaneci de pé, ao fundo da igreja. Pela nave única de
abóbada manuelina ecoava um cântico que me encheu a alma. Interiorizei a
serenidade da música e deixei-me levar pelo momento, aquele momento em que o
tempo parece ficar suspenso e como um acontecimento cósmico excecional todos os
momentos passados, sentidos com a mesma intensidade e emoção, voltam a estar
presentes, a ser (re)vividos
.
Entrei com a intenção de rezar,
talvez, de agradecer, sem dúvida, mas principalmente com a ideia de, mais do
que pedir um milagre, pedir a força necessária a quem na altura tanto
precisava. Entrei também com a vontade de, por momentos, conseguir parar e
afastar-me das questões mundanas que me ocupam os dias, para pensar e meditar,
para receber uma lufada de espiritualidade.
O facto de estar a ser celebrada
a missa revestiu o templo de maior religiosidade, assumindo-se como casa de
Deus e não apenas mais um muito procurado monumento nacional. Muito mais do que
o espaço físico de grande beleza arquitetónica e escultural é um espaço para sentir
e viver Deus, seja de que maneira for, com mais ou menos fé, em procura ou
mesmo em negação.
O certo é que fui tocada por essa
lufada de espiritualidade, por essa fé meio adormecida. Entrei no templo e tive
a perceção de ter entrado numa dimensão paralela, serena, em paz, onde tudo tem
o seu sentido, sem explicações, sem lógica, apenas sentido, um sentir ténue e
profundo, bem no fundo, no entanto presente. Se conseguisse trazer para a
superfície do meu ser esse sentimento…mas não é algo que se consiga em 5
minutos, vai-se construindo, alimentando.
Sentindo-me reconfortada e revigorada
saí. Renovada inspirei o ar fresco da manhã e segui o meu caminho. Durante
meses foi este o meu pequeno-almoço espiritual. Diariamente, estes minutos de
pausa, de oração, fortaleciam-me na esperança de fortalecerem também, física e
espiritualmente, aqueles, alvo da intenção das minhas preces…mas o milagre não
aconteceu.
Fortalecer a fé já é um grande milagre!
ResponderEliminarBonita foram as palavras que alimentam a razão da fé.
Obrigada!
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