Quando no último ano da faculdade
estive 3 meses a estudar nos arredores de Londres, tive a oportunidade de
viajar por Inglaterra, Escócia e País de Gales. As viagens por Inglaterra e
Escócia fiz na companhia dos meus colegas e companheiros do programa Erasmus, mas
a viagem ao País de Gales acabei por fazer sozinha. Foram 3 dias de solidão,
num país com terras de nomes impronunciáveis, cheio de misticismo, paisagens
desertas e deslumbrantes. O mais marcante dessa viagem de 3 dias revelou-se ser
o silêncio. O silêncio da paisagem deserta, apenas cortado pelo assobiar do
vento, o silêncio da imensidão do mar, interrompido pelo bater das ondas, mas
particularmente o silêncio da minha voz. Nesse espaço de tempo em silêncio, sem
ninguém ao meu lado, sem comunicações, sem personalidade para falar com
desconhecidos, tive muitas conversas silenciosas comigo mesma. É no silêncio da
solidão que melhor ouvimos a nossa própria voz, a interior, a mais sincera.
Desde muito nova que procuro
momentos de solidão. Não me assustam. Permitem-me crescer, libertar-me,
conhecer-me, observar e compreender o mundo.
Se por vezes recorria a um
efetivo isolamento físico, onde na escuridão do meu quarto me encontrava com os
meus pensamentos e com a música e procurava momentos só meus, momentos que não
seriam partilhados com pais, irmãos ou amigos, outras vezes encontrava e gozava
a solidão num mar de gente desconhecida. Sempre me deu muito gozo ser uma
anónima no meio da multidão, percorrer sozinha ruas apinhadas de gente,
observar os rostos de quem comigo se cruza sem que necessite uma palavra, um
cumprimento, ou simplesmente abstrair-me de todos os que me envolvem e no
bulício da cidade encontrar o silêncio da minha voz interior numa quietude serena
de quem tem tanto com que se deslumbrar, absorver e interiorizar.
Acredito que o prazer que a
solidão me dá apenas é possível porque não sou uma pessoa só. Tenho a
felicidade de sempre ter vivido rodeada de família e amigos que verdadeiramente
me amam. Família e amigos que respeitam o meu isolamento mas que nunca me
deixarão só, que seguramente estarão sempre comigo, no deserto mais recôndito
ou na avenida mais movimentada. Família e amigos que preenchem os meus
silêncios com amor.
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