Chegámos cedo à praia…bem, cedo
para nós, já eram 10 horas da manhã! Seja como for, naquela praia, com a sua
caraterística neblina matinal, antes das 10 horas não se encontra muita gente.
A praia estava vazia, vazia de gente e de maré. Apenas algumas famílias, a
norte, junto às rochas. Escolhemos um local para estender as toalhas, não foi
difícil, a sul das rochas não se encontrava ninguém. Orgulhosos da nossa
escolha, da escolha da praia e do local onde estendemos as toalhas, podíamos
usufruir plenamente da areia, do mar e do sol que começava a espreitar por trás
das nuvens que se dissipavam, sem balbúrdias de gente, com espaço suficiente
para jogar raquetes e silêncio para ouvir as ondas do mar.
À medida que o sol foi ficando
mais quente foram chegando mais pessoas, nãos as suficientes para encher a praia,
mas as bastantes para transformarem o nosso domínio sobre a praia deserta num
apinhado condomínio. É curioso como as pessoas se foram instalando todas à
nossa volta, deixando a restante área da praia, a sul, completamente livre.
Tínhamos optado por estender as toalhas numa zona sem ninguém, mas acabámos
rodeados de gente, a pouco mais de 1 metro de distância, quando tinham tanto
espaço livre, tanta área de areia virgem, após a maré alta da noite, à espera
de ser marcada com uma pegada, um par de chinelos, um rabo afundado na toalha…
E foi assim que nasceram os
primeiros povoados, as primeiras vilas e cidades. O ser humano tem tendência
para se agrupar, por questões de segurança, de convívio, de interesse, de
economia de recursos e mesmo de sobrevivência. Agrupamo-nos mas delimitamos o
nosso espaço. O espaço privado de cada um. O espaço privado é muito valorizado
e nunca pode ser violado. Mas a noção e as relações de espaço privado mudam de pessoa
para pessoa e de povo para povo e até de situação para situação, o importante é
que o mesmo esteja devidamente sinalizado e delimitado.
Suponho que na praia o espaço
privado de cada um seja a área ocupada pela sua toalha a que acresce os anexos
que correspondem ao saco, aos chinelos e ao monte de brinquedos despejados na
areia mal se escolhe o local da implantação do “nosso espaço na praia”. Uma
família numerosa ou um grupo de amigos terá necessariamente uma área maior a
que chamar sua. Temos por vezes autênticas mansões T10. Se o T10 corresponder a
uma família com crianças então para além das 10 toalhas estendidas na areia
teremos uma infinidade de anexos, alguns até, arrisco dizer, ilegais: todos
sabemos que o monte de brinquedos deverá ficar concentrado junto das toalhas e
restantes anexos (o monte de chinelos, os sacos e mochilas, malas térmicas,
etc.), isso de espalhar pás, ancinhos, camiões, moinhos, baldes, bolas,
raquetes, boias e pranchas pela praia toda soa um pouco a clandestinidade, a
usurpação do espaço público…
Se numa praia encontramos espaços
privados bem modestos, alguns que nem toalhas têm, T0 portanto, também por
vezes encontramos autênticos condomínios privados em que várias famílias
coabitam. Tive a oportunidade de ter encontrado um desses condomínios: 5 ou 6
chapéus-de-sol, circundados e bem delimitados por vários corta-ventos, que
albergavam as várias toalhas e restantes anexos onde se destacavam as muitas
malas térmicas. Encontramos ainda nas nossas praias alguns povoados ou
comunidades: as colónias de férias…
Posto isto, compreendo melhor o
facto de as pessoas se aglomerarem à nossa volta, apesar de grande parte da
praia permanecer vazia, no entanto, o título do primeiro livro de Joanne Harris
que li insiste em me vir à memória…
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