Recordo-me de em menina, com 3 ou
4 anos, estar sentada com a minha mãe na sua cama a conversar. A sua barriga de
grávida, redondinha e proeminente, fazia-me ansiar pelo nascimento do meu
irmão. Conversávamos sobre os nomes a escolher para o bebé, lembro-me que eu
queria que tivesse 3 nomes próprios: os nomes dos meus 3 primos mais velhos… primos
de coração. Acabou por ficar apenas com 2, mas ainda hoje recordo com carinho o
nome Luís Miguel André! O meu irmão foi o primeiro bebé que tenho memória de
ter sentido ainda antes de nascer. Pousava a mãozita na barriga da minha mãe e
juntas sentíamos os movimentos e pontapés do bebé. Lembro-me perfeitamente do
dia em que o meu irmão nasceu, tinha eu 4 anos. Recordo-me de estar a subir uma
escada a caminho do berçário na maternidade, de mãos dadas com o meu pai e a
minha irmã mais velha; tinha finalmente chegado o dia de conhecer o mano bebé! Com
pavor olhei pelo vidro do berçário e vi uma sala cheia de recém-nascidos. Naquele
tempo quando os bebés nasciam não ficavam logo junto às mães. O meu pai apontou
para um deles e apresentou-nos o nosso irmão, mas, na inocência dos meus 4
anos, receei que pudesse não ser aquele bebé o meu irmão, mas qualquer um dos
outros mais de 10 recém- nascidos, afinal eram todos iguais!
O meu irmão foi crescendo e os beijinhos
e abraços com que eu e a minha irmã o enchíamos foram dando lugar a pequenas
zangas e ao afastamento caraterístico de miúdas adolescentes relativamente ao
irmãozinho ainda criança. Apesar das diferenças, a relação entre os 3 irmãos cresceu
em harmonia, cumplicidade e amor, muito graças à maneira como os nossos pais
souberam lidar e educar 3 crianças tão naturalmente diferentes e como sempre
nos ensinaram a partilhar e a dividir por 3… por 4 ou 5, por quem necessitasse!
Ao longo da vida fui colecionando
momentos especiais com os meus irmãos e ainda hoje, a viver a 200km de
distância, fazemos questão de aumentar a coleção! Se a minha irmã é a única
pessoa que sabe tudo da minha vida, tenho com o meu irmão uma cumplicidade
diferente mas tão entranhada que quando jogamos como equipa ao “pictionary” ninguém nos consegue vencer,
tão em sintonia estão as nossas mentes!
Com os meus irmãos cresci e partilhei
muito mais do que um teto e refeições à mesma mesa. Partilhei o amor e a
atenção dos nossos pais, partilhei férias e momentos do dia-a-dia, aventuras e
desventuras, gargalhadas e lágrimas, segredos e denúncias, direitos e deveres,
conhecimentos e brincadeiras, zangas e abraços, mas também partilhei espaços,
roupas, livros e brinquedos, refeições e guloseimas. Com os meus irmãos aprendi
que dividir por três pode dar sempre resto zero! Com eles partilho o que de
mais valioso temos: o amor dos nossos pais! Partilhamos também o mesmo grupo
sanguíneo, mas acima de tudo partilhamos a Vida.
Que este sentido de verdadeira
união entre irmãos, partilhado agora também com os meus filhos, seja para eles
exemplo da riqueza e do privilégio de se terem um ao outro.
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